
As maiores instituições do poder paralelo no Brasil configuram um cenário complexo e multifacetado, permeando diversas camadas da sociedade e exercendo uma influência considerável à margem das estruturas estatais formais. Em vez de se apresentarem como entidades singulares e centralizadas, essas manifestações de poder paralelo se articulam através de uma variedade de organizações e dinâmicas interconectadas. Entre as mais proeminentes, destaca-se o Primeiro Comando da Capital (PCC), originário dos presídios paulistas, a emergir como uma das maiores e mais estruturadas facções do país. Sua atuação transcende as fronteiras prisionais, estendendo-se por todo o território nacional e além, com um profundo envolvimento no tráfico de drogas, roubo de cargas e outras atividades ilícitas, sustentando uma hierarquia bem definida e códigos de conduta próprios que influenciam comunidades inteiras onde a presença estatal é limitada.
Outra organização de grande relevância é o Comando Vermelho (CV), com sua base no Rio de Janeiro, possuindo uma atuação significativa em diversos outros estados. Assim como outras grandes facções, o Comando Vermelho exerce controle territorial e se envolve em diversas atividades criminosas. Sua influência se manifesta no cotidiano de muitas comunidades, cidades e até mesmo no poder público, onde suas regras e sua presença são sentidas pela população. Em âmbito regional, facções como a Família do Norte (FDN), com forte atuação na região amazônica, e o Primeiro Grupo Catarinense (PGC), com influência em Santa Catarina, também configuram importantes polos de poder paralelo, moldando a dinâmica criminal em seus respectivos estados. No Rio de Janeiro, além do CV, outras facções como o Terceiro Comando Puro (TCP) e o extinto Amigos dos Amigos (ADA) também exerceram, e em alguns casos ainda exercem, controle em áreas específicas.
Ademais, as milícias, com sua forte concentração no Rio de Janeiro, constituem outra importante instituição do poder paralelo. Grupos como a Liga da Justiça, o Bonde do Zinho, e diversas outras organizações menores, formadas predominantemente por membros das forças de segurança (ativos e inativos), surgiram sob um pretexto de ordem, mas rapidamente evoluíram para estruturas criminosas que exploram a população através da cobrança de taxas ilegais por serviços essenciais, controle do transporte irregular e extorsão de comerciantes. O controle territorial exercido pelas milícias é marcado pela violência e pela intimidação, e sua influência política em algumas áreas é notável, demonstrando a complexidade e a penetração desse poder paralelo nas estruturas sociais e políticas locais.
Outrossim, o crime organizado também se manifesta em setores econômicos diversos, como o agronegócio e a exploração de recursos naturais. Redes complexas, muitas vezes sem um nome único amplamente divulgado, atuam no desmatamento ilegal na Amazônia, na grilagem de terras, no contrabando de agrotóxicos e na exploração ilegal de minérios, movimentando grandes somas de dinheiro e exercendo influência sobre decisões políticas e ambientais em nível regional e nacional. A lavagem de dinheiro proveniente dessas e de outras atividades ilícitas também configura uma importante dimensão do poder paralelo, com redes sofisticadas operando através de empresas de fachada e outros mecanismos para legitimar recursos de origem criminosa.
Em suma, as instituições do poder paralelo no Brasil compartilham características como o controle territorial exercido através da violência e da intimidação, a regulamentação informal da vida em comunidades onde o Estado é menos presente, a corrupção como um mecanismo facilitador de suas atividades, e a complexa teia de conexões que estabelecem entre si e com setores da sociedade formal. A compreensão dessas intrincadas dinâmicas, que envolvem desde grandes facções prisionais até redes de exploração econômica ilegal e grupos paramilitares, é essencial para o desenvolvimento de estratégias eficazes no combate a essas organizações e na busca pela restauração da autoridade estatal e da segurança nas comunidades afetadas por sua influência.
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